segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Desventuras de Tardes Tediosas - Parte VI ( Toca dos Ratos )

Os olhos dela estavam dilatados enquanto ela tentava capturar cada detalhe do cenário diante de si. Sarah jamais havia visto algo como aquilo, já havia lido a respeito e visto desenhos ultrapassados, mas jamais havia estado em um local assim. Nunca havia sido capaz de tocar, ouvir e sentir os odores que enchiam o loca. E preferia que continuasse sem sentir, pois o cheiro era de condimentos, corpos suados e esterco. Dimitri a cutucou, fazendo um sinal para que ela o seguisse, e assim ela o fez, apenas o enxergando pelo canto do olho, estava ocupada demais tentando memorizar cada marca nas pedras e nas carroças.

Todos aqueles olhos estavam seguindo-o, alguns verdes, a maior parte quase pretos. As crianças a viam com curiosidade, e se aproximavam cuidadosamente, como se temessem se aproximar demais. Alguns pareciam prender a respiração para se aproximar mais e quase tocá-la, mas quando os olhos de mel os fitavam eles davam gritinhos e se afastavam, trombando em cestas empilhadas que se esparramavam. Quase sempre ela ouvia uma bronca em seguida. Os adultos não a olhavam com curiosidade, mas sim com o mesmo ódio e repulsa que Dimitri e Hani haviam lançado contra ela no primeiro momento em que a viram. Alguns desejavam distância, outros morte. Ela encolheu os ombros, intimidada, e apressou o passo para ficar mais próxima de Dimitri.

Ela percebeu que o círculo ovalado que era aquela estranha carvena aberta possuía um diâmetro maior do que ela havia imaginado a principio. Haviam rodas de quatro ou cinco carroças, ou casas com rodas, por toda a parte. Ruelas formadas por cestas, terra pisada e pedras incertas levavam os moradores para todos os lugares. Ao lado das carroças ou entre cercas baixas e não muito fortes havia todo tipo de animais, cavalos, alguns bois, galinhas, cabras e porcos. O cheiro do estrume enchia as narinas de Sarah, e o som dos cacarejos irritadiços irritava seus ouvidos. Ela sempre odiou galinhas, eram fedorentas e inconvenientes, e não muito gostosas. Além do mais, era impossível mantê-las presas. Sempre escapavam das cercas para bicar os seus dedos. Pensando nisso, ela passou a olhar com atenção também par ao chão, evitando as malditas parasitas de asas.

Ela notou que ao lado de cada entrada nas paredes havia uma tenda que poderia ser estendida até o extremo oposto, imaginou que aquilo servisse como uma porta, para que quem estivesse na caverna não visse a luz ou as sombras do vilarejo improvisado, e se afastasse. Ao mesmo tempo que tudo aquilo parecia uma casa de hippies, também parecia um refúgio, do tipo que ela lia a respeito em livros medievalistas ou em filmes com o Mel Gibson.

No centro da toca havia uma carroça pintada de vermelho, verde e preto. As rodas eram maiores e havia dois cavalos ao lado dela, pastando. Dimitri fez um sinal para que ela esperasse do lado de fora e puxou a bandana, fazendo-a se solta e cair por seu rosto. O cabelo preto tinha cachos bem definidos e pesados, criando cortinas escuras no rosto bronzeado. Ele afastou o cabelo antes de bater na porta e entrar, subindo um degrau alto e fechando a porta. Hani ficou ao seu lado, tentando, assim como ela, ouvir o que acontecia lá dentro.

-Quem mora ai? – ela perguntou baixinho para o rapaz de cabelos pretos curtos.

-É o “pai” do Dimi – ele respondeu.

Pai? Para que ele tinha ido falar com o pai? Ele ia desposá-la, por acaso? Se fosse assim, ele devia falar com o pai dela. Ou melhor, com ela! Mas não fazia sentido nenhum ele querer casar com ela, afinal, ela era uma “branca”, como ele e Hani haviam feito questão de destacar.

-Para que ele foi falar com o pai? E porque estamos sussurrando? – ela perguntou, e Hani quase riu.

-O “pai” dele é o que você poderia chamar de chefe.

-Ele é o filho do líder?! – a voz de Sarah se elevou, e Hani segurou com força uma gargalhada, concordando com a afirmação da garota.

Ela sabai que seus olhos haviam se dilatado de novo e seu coração disparado com a novidade. Se as coisas continuassem daquele jeito, ia enfartar antes de seu pai.


"Seu coração arfava desesperado e ele sentiu os olhos se aquecerem e vazarem." - sentimentos de Joey em uma história ainda sem nome (é a mesma da citação do post anterior)


-Meu nome não é Níh;

1 comentários:

Diego disse...

Não tem como postar a história toda de uma vez não?? xDxD AMEI!!!

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