terça-feira, 28 de abril de 2009

Sem Título

"A noite estava úmida e fria, e avançava sem distinção. As janelas estavam fechadas e lacradas, com tábuas de madeira e de metal. Gritos eram ouvidos do lado de fora da casa. Era uma casa simples, de apenas dois cômodos. Abrigava sem preconceito alguma uma família de quatro integrantes. Os pais estavam de mãos dadas, englobando os dois filhos em um abraço único, apertado e repleto de nervosismo. Os corpos amontoados estavam encostados em um dos cantos do quarto, o mais longe possível da porta de acesso, uma janela logo acima de suas cabeças. Escondiam-se atrás da cama simples de molas estragadas, que costumava receber as quatro pessoas da família todas as noites.
A mãe encontrava-se pálida, os lábios roxos e trêmulos murmuravam rezas indistintas e corridas, enquanto o desespero crescia na alma da mulher. O pai tinha uma expressão dura, séria, vendo o sofrimento de sua família, lidando com o próprio desespero, sem nenhuma opção prática para resolver o problema, ele se juntou a mãe na reza. A única solução que lhe havia restado. A filha mais velha tinha lágrimas frias de nervoso e medo escorrendo para fora dos olhos cerrados, o rosto oculto pelos longos cabelos que grudavam em seu rosto. O filho mais jovem encontrava-se encolhido, englobado pelos corpos mais desenvolvidos, apenas a cabeça escapando entre os braços e os ombros de seus parentes próximos. Ele olhava para a janela de maneira fixa, como se pudesse descobrir o que acontecia lá fora, porque tantos gritos, porque tanto medo; ninguém lhe havia explicado o que estava acontecendo.
Os gritos que ecoavam do lado de fora de casa, ora distantes, ora próximos, não cessaram nem diminuíram em momento algum da noite. Prosseguiam, no mesmo ritmo. Mas, apesar disso, o desespero dos pais aumentava, e seu abraço se intensificava. O garotinho teve que se encolher no emaranhado de braços e pernas, para impedir sua sufocação. Uma cortina de cabelos se formou entre ele e seu objeto de interesse e análise: a janela. Dentro da casa, nada era dito além das rezas dos pais. Quando a madrugada já havia avançado, e os olhos do menino começavam a pesar, a irmã também começou a rezar. Unindo-se aos pais, ela sussurrava as rezas decoradas com fé fervorosa. Como uma canção mórbida, as preces se erguiam no ar, rodopiando e cercando-os, tentando isolá-los do desespero crescente que se metia entre as frestas das janelas e portas, sendo inspirado pela família e contagiando-os.
Os olhos curiosos do garoto tentavam enxergar além dos cabelos da irmã e dos braços dos pais. Esticava o pescoço como o de uma girafa, tentando ir além do bloqueio humano que era feito ao seu redor. Horas fazendo tal tentativa, deixavam-no exausto, mas as rezas e a força com a qual seus pais abraçavam a ele e a sua irmã impediam-no de dormir. Na última das vezes que reuniu forças para esticar sua cabeça e desviar dos cabelos longos e volumosos da irmã, ele conseguiu ver um feixe de luz entrando sorrateiro por uma das minúsculas frestas das janelas rachadas.
Um som invadiu o aposento, e o abraço familiar se intensificou. Ele não conseguiu ver, mas pôde ouvir a porta sendo escancarada sem respeito ou medo, apenas um murro surdo, que resultou na porta se chocando contra a parede e permanecendo aberta.
.
.
.
.
.
.
.
-o que é? o que foi? o que será?
-meu nome não é Níh;

segunda-feira, 27 de abril de 2009

__Inauguração__

avançando indiscriminadamente...
sem pensar
sem sentir

-meu nome não é Níh;