domingo, 21 de fevereiro de 2010

Princesas, Rainhas e Margaridas

Aquela criança era por demais diminuta para que pudesse alcançar a maçaneta trabalhada. Mesmo que grande para sua pouca idade, era necessário ficar nas pontas dos pés calçados em sapatos de verniz para que as pontas de seus dedos sem calos, bolhas ou cortes, roçassem o bronze frio. O portão da garagem se erguia, e enquanto um motor desligava, outros pneus ainda giravam sobre o piso, escondendo-se dentro da casa. Portas sendo abertas e fechadas, e risadas altas, mas falsas. Chaves tilintando na mãos de mais de uma pessoa, e trocas de responsabilidade. Os meninos gritavam alto, sem empurrando e se batendo, enquanto a única menina ainda tentava alcançar a única maneira que conhecia para abrir portas. Quando uma mão tocava o topo de sua cabeça quente, ela sabia que, finalmente, teria seu caminho desobstruído. A chave se encaixava da fechadura, e a peça metálica era girada, depois disto ela sabia o que fazer.
Empurrava com toda a sua força diminuta o enorme pedaço de madeira chamado porta, e se lançava pelo caminho de pedras róseas, ignorando seu destino, com olhos apenas para os arredores. Diferente dos adultos, ela não se importava se suas roupas eram caras ou não, ou se iria ficar suja e bagunçada. A menina de menos de um metro, vestida com o mais belo e branco traje que sua avó havia sido capaz de encontrar para criança tão jovem, jogava-se entre os arbustos de margaridas como se estivesse de maiô, diante de uma piscina. Acomodava-se na grama fofa e fazia dali seu castelo. Enquanto os garotos passavam correndo e gritando e batendo uns nos outros, ela estava segura entre as flores plantadas pelas mãos com reumatismo da mãe de seu pai.
Eram mãos pequenas na opinião de um adulto, mas gigantescas para seus colegas de idade, e, naquele momento, estavam ocupada segurando flores de maneira errada, puxando-as não pelos caules, mas pelos topos. Muitas margaridas eram assassinadas de uma maneira que provavelmente não mereciam. Mas depois de muitos sacrifícios, a criança entendia como devia prosseguir com suas intenções. Com flores inteiras e caules compridos, ela formava uma coroa desajeitada e quase demolida, mas que seria a mais bela de todas, pois seria a sua coroa em seu próprio reino. Em sua cabeça, era mais linda ainda. As pétalas brancas caiam nos fios com cachos longos, e ficava entrelaçadas ali. A franja estava amarela de pólen, assim como o vestido branco.
Se ergueu em seu reino, e correu pela grama até chegar nas pedras rosadas e ultrapassar os pássaros verdes e aprisionados, chegando até onde estava sua mãe e as demais. Sorria, orgulhosa de si mesma. Sua tia e sua avó gritaram, horrorizadas, com o estado do vestido, mas a mãe sorriu. Sorriu e riu, pegando-a nos braços e se sujando também. Quando via o sorriso da mãe, e sentia-se segura em seus braços, ignorando as expressões de censura da tia e da avó, a menina que ainda era nova demais para entender muitas coisas sabia que era um princesa, pois sua mãe era uma rainha.




Depois de muitos anos que se passaram, e a menina, que agora era mulher, viu aquele jardim novamente não havia mais pétalas, nem caminho de pedras, nem passarinhos verdes. Havia uma porta trancada e outros carros na garagem, outras chaves e outros risos falsos. Não havia criança alguma tentando passar pela porta lateral, pois esta não existia mais, e as crianças estavam contidas pelos pulsos ao lado de suas mães, pais, tias, tios, avôs e avós. Quando a mulher, que um dia fora uma menina, viu aquilo, pegou nos braços a nova menina, que um dia seria a nova mulher, e foi até um lugar onde houvessem arbustos, flores e grama para que ela estragasse o vestido caro.
Ela não se lembrava da conclusão que havia chego na cozinha há muitos e muitos anos, e tampouco sabia a sua menina. E, sabia muito menos que, quando a garotinha surgiu da natureza verde, marrom de grama e colorida de pétalas, e foi recebida por braços abertos e sorrisos e risadas ela também decidira que era uma princesa, pois sua mãe era uma rainha.





Estou preparando uma grande surpresa, uma das boas, mas, infelizmente, a burocracia afoga as idéias, ou pelo menos às atrasa. Portanto, peço (ou imploro) por paciência. Dentro em pouco poderia lhes dizer qual a novidade. Enquanto isto, ofereço-lhes pequenos contos, espero que gostem.
A opinião de vocês é sempre importante, portanto, comentem!!
Saudações





-Meu nome não é Níh;

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sala escura, amarrados e cagados

Aquilo foi uma merda. Se me permitem o palavreado, foi uma merda muito bem cagada. Tive a sensação de que alguém houvesse defecado na minha cabeça, mas no começo a coisa era dura feito pedra. Conforme o tempo passava, ela amolecia e começava a escorrer pela minha cabeça até os ombros. Me sentia fedida e imunda até a alma. Sabia que aquilo ia cair nos meus olhos e na minha boca, mas as mãos estavam amarradas e eu não conseguia tirar aquilo, mesmo balançando a cabeça, continuava a escorrer quente e vagaroso.

Poderia fechar meus olhos e a minha boca, mas aquilo fedia demais, e eu não mentiria para mim mesma que era cheiro de rosas. Desesperada, chorei um pouco, lavando aquela merda toda que tinha no meu rosto.

Mas ainda estava amarrada na cadeira, sentada em uma sala escura de costas para as outras pessoas que, como eu, estavam amarradas e cagadas.

Estávamos mudos, sem compartilhar nossas angústias, ignorantes aos sentimentos dos outros, mas eu sabia, e sabia que eles também sabiam, de que a situação deles era bem semelhante a minha.

Não combinamos aquilo, nem prometemos nada, mas sabíamos que quando um de nós se libertasse cortaria a corda dos outros e, finalmente, eu poderia tomar um banho.




Este é o segundo menor post da história deste blog. Ao mesmo tempo é um dos que mais contém significado. Parece uma história asquerosa e perturbada, mas tem algo escondido nas palavras chulas. Desculpe a ausência, mas estou preparando algo muito especial, e isto andou tomando o meu tempo. Dentro de poucos dias estarei anunciando o que é. Obrigada por ainda lerem o blog.


Meu nome não é Níh;